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Impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes: Guia para pais e educadores

  • Paloma Garcia
  • 13 de nov. de 2023
  • 15 min de leitura

Atualizado: 15 de abr.


As redes sociais fazem parte do cotidiano de grande parte dos adolescentes. Elas oferecem oportunidades de expressão, pertencimento e conexão — mas também podem gerar impactos importantes sobre a saúde mental. E esses efeitos vão muito além do vício em telas ou do tempo de uso.

Adolescente olhando celular em ambiente externo, simbolizando foco excessivo em redes sociais e comparação social digital

Embora o uso excessivo de redes e a dependência digital mereçam atenção — conforme explorado em profundidade no artigo “Vício em Redes Sociais na Adolescência: sinais, causas e como ajudar”, já publicado neste blog — há uma questão ainda mais ampla a ser considerada: como o ambiente digital influencia o bem-estar emocional, o desenvolvimento psicológico e a forma como os adolescentes se percebem e se relacionam com o mundo.


Mesmo quando não há sinais claros de compulsão, as redes sociais podem afetar profundamente a autoestima, a qualidade do sono, a regulação emocional, a concentração, e a forma como os jovens constroem seus vínculos e sua identidade. Trata-se de uma relação complexa, que exige reflexão cuidadosa — não só sobre quanto tempo os adolescentes passam conectados, mas como, por que e com que efeitos estão usando essas plataformas.


Pesquisas recentes mostram que o uso de redes sociais está associado tanto a experiências positivas quanto a riscos emocionais, e que esses efeitos variam de acordo com a idade, o contexto familiar, a personalidade do adolescente e o tipo de uso (Twenge & Campbell, 2018; Orben & Przybylski, 2019).


Diante disso, o objetivo deste artigo é oferecer um guia aprofundado, baseado em evidências científicas e práticas acolhedoras, para que pais e educadores possam compreender melhor os impactos das redes sociais na saúde mental dos adolescentes e atuar de forma mais consciente e efetiva no apoio a essa geração digital.


  1. O que dizem os estudos sobre redes sociais e saúde mental juvenil


Nos últimos anos, pesquisadores de todo o mundo têm investigado os efeitos do uso de redes sociais sobre o bem-estar psicológico de adolescentes. O consenso atual é que esses impactos são complexos, multifatoriais e profundamente contextuais — dependendo do tipo de uso, da frequência, do conteúdo consumido e das características individuais de cada jovem.


Ao contrário da ideia simplista de que “as redes sociais fazem mal”, os estudos mostram que o problema não está apenas na presença da tecnologia, mas no modo como ela é usada e no suporte emocional disponível durante esse uso.


Um dos trabalhos mais amplamente citados na área, conduzido por Orben e Przybylski (2019), com mais de 120 mil adolescentes, concluiu que o uso de redes sociais tem efeitos estatisticamente pequenos, mas clinicamente relevantes sobre o bem-estar, especialmente em adolescentes com menor suporte familiar e maior vulnerabilidade emocional.


Outros estudos identificam correlação entre uso intensivo de redes sociais e aumento de sintomas como:


  • tristeza persistente, especialmente em meninas;

  • dificuldades de sono, causadas por estímulo excessivo ou uso noturno;

  • baixa autoestima, especialmente em plataformas baseadas em imagem, como Instagram e TikTok;

  • ansiedade social, medo de exclusão (FoMO) e necessidade constante de validação.


A pesquisa de Twenge e Campbell (2018) mostrou que adolescentes que passam mais de 3 horas por dia em redes sociais têm maior probabilidade de relatar sintomas de depressão. Essa relação, embora não seja necessariamente causal, é consistente com outros achados na literatura.


Além disso, uma análise da American Psychological Association (APA, 2023) destaca que o uso passivo das redes — como rolar feeds sem interações significativas — está mais associado ao aumento de sintomas depressivos, enquanto o uso ativo e social pode ter efeitos neutros ou até positivos, dependendo do contexto.


Essas descobertas reforçam a importância de não demonizar as redes sociais, mas sim de compreender os mecanismos e condições em que elas impactam negativamente a saúde mental dos jovens.


Pontos importantes segundo a literatura:


  • O problema não é apenas o tempo de tela, mas a qualidade da experiência digital;

  • Vulnerabilidades pré-existentes (como baixa autoestima ou histórico de ansiedade) aumentam os riscos;

  • O ambiente familiar e escolar de apoio atua como fator de proteção emocional;

  • O impacto emocional é diferenciado por gênero, faixa etária e tipo de uso.


  1. A neurociência do adolescente em ambiente digital


Durante a adolescência, o cérebro passa por uma profunda reorganização estrutural e funcional. É uma fase marcada por alta plasticidade cerebral, o que significa que os estímulos externos — inclusive os digitais — têm grande influência sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional.


Duas regiões do cérebro são especialmente relevantes para entender como os adolescentes se relacionam com as redes sociais:


  • O sistema de recompensa, especialmente o núcleo accumbens, que responde à liberação de dopamina, neurotransmissor associado à sensação de prazer e motivação.

  • O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos, tomada de decisões, autorregulação emocional e planejamento — e que ainda está em maturação nessa fase.


As redes sociais, ao oferecerem recompensas rápidas e imprevisíveis (curtidas, comentários, novas notificações), ativam com frequência o sistema de recompensa, liberando dopamina de maneira similar a estímulos como doces, jogos ou até substâncias psicoativas (Montag et al., 2019). Isso reforça o comportamento de checar constantemente o celular, mesmo na ausência de notificações novas — um fenômeno conhecido como comportamento de verificação compulsiva.


Essa ativação frequente da dopamina em cérebros em desenvolvimento pode levar a:


  • dificuldade de concentração em tarefas prolongadas ou que exigem esforço;

  • menor tolerância à frustração e busca constante por estímulos recompensadores;

  • oscilações de humor, especialmente quando a resposta social esperada (como curtidas ou comentários) não ocorre;

  • ansiedade antecipatória relacionada à validação social digital.


Além disso, como o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento, os adolescentes têm menos capacidade de inibir impulsos, regular emoções intensas e avaliar consequências de longo prazo — o que contribui para comportamentos impulsivos e hipersensibilidade a críticas ou rejeição online.


Segundo Siegel (2014), essa configuração cerebral torna os adolescentes mais vulneráveis ao impacto emocional de interações sociais virtuais — positivas ou negativas — pois o cérebro adolescente valoriza fortemente o pertencimento e a aprovação do grupo.

Resumo do impacto neurobiológico do ambiente digital em adolescentes:


  1. Como o ambiente digital interfere nas emoções e no autoconceito


Para muitos adolescentes, o ambiente digital não é apenas uma extensão da vida social — ele se tornou parte fundamental da construção da identidade e da autoimagem. Likes, comentários, seguidores e o modo como se é percebido nas redes sociais formam hoje pedaços do espelho emocional pelo qual muitos jovens se avaliam e se comparam.


Esse cenário traz implicações importantes para o desenvolvimento emocional. A adolescência, por si só, é uma fase marcada por flutuações de humor, insegurança e busca de pertencimento. Quando somamos a isso o uso frequente de redes sociais — onde as interações são editadas, filtradas e publicamente avaliadas — o impacto sobre o autoconceito e a regulação emocional pode ser significativo.


Regulação emocional comprometida


Estudos demonstram que adolescentes que usam redes sociais como único ou principal espaço de expressão emocional tendem a apresentar maior instabilidade afetiva, especialmente quando expostos a conteúdos que despertam comparação, inveja ou exclusão (Keles, McCrae & Grealish, 2020).


  • Comentários negativos ou a ausência de retorno esperado (como curtidas ou respostas) podem gerar retraimento, raiva ou sentimento de inadequação.

  • A dependência da validação externa digital afeta o desenvolvimento da autonomia emocional, reduzindo a capacidade de autoafirmação offline.

  • Flutuações de autoestima baseadas na resposta do ambiente virtual tendem a fragilizar a autoimagem.


Insegurança subjetiva e comparação constante


As redes sociais funcionam como vitrines altamente selecionadas da vida dos outros. Mesmo sabendo que muitas imagens são editadas ou filtradas, adolescentes ainda comparam suas emoções reais com representações idealizadas, o que aumenta a insatisfação com a própria vida, corpo ou conquistas.


Essa comparação constante pode gerar:


  • sensação de inadequação social, mesmo entre jovens com bom desempenho acadêmico ou vida familiar estável;

  • insegurança sobre aparência, popularidade ou relevância;

  • frustração com a própria rotina, vista como monótona frente à intensidade exibida online.


Um estudo da Royal Society for Public Health (RSPH, 2017) no Reino Unido apontou que Instagram e Snapchat foram as plataformas mais associadas a sentimentos de ansiedade, inadequação e distorção da imagem corporal, mesmo entre adolescentes que não apresentavam sintomas clínicos anteriores.


Fadiga emocional digital


Além da comparação e da oscilação de humor, o excesso de estímulos digitais — notificações, mensagens, stories, conteúdos rápidos — pode gerar sobrecarga emocional e mental, dificultando o descanso psicológico e a clareza interior. Essa fadiga reduz a capacidade de processar emoções e tomar decisões com base na autorreflexão.


  1. Sinais emocionais e comportamentais de sobrecarga digital


Nem sempre o impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes aparece de forma explícita. Muitas vezes, ele se manifesta por meio de alterações sutis de comportamento, humor e rotina, que, quando observadas em conjunto ou com frequência, podem indicar uma sobrecarga emocional digital.


Esses sinais não significam, isoladamente, que há um transtorno psicológico. Mas merecem atenção e, principalmente, acolhimento e escuta ativa.


Mudanças emocionais frequentes


  • Irritabilidade sem causa aparente, especialmente após longos períodos conectados;

  • Tristeza ou frustração após interações online (como publicações ignoradas ou reações negativas);

  • Ansiedade antecipatória com notificações ou resposta de mensagens;

  • Oscilações bruscas de humor relacionadas à aceitação ou rejeição virtual.


Alterações no comportamento social


  • Isolamento progressivo da vida offline, com preferência por interações virtuais mesmo em momentos sociais;

  • Desinteresse por atividades antes prazerosas, como esportes, arte, leitura ou encontros presenciais;

  • Dificuldade em manter conversas presenciais com fluidez ou atenção;

  • Necessidade constante de estar com o celular, mesmo em contextos que demandam foco (como refeições ou aulas).


Sinais cognitivos e físicos associados ao uso excessivo emocionalmente disfuncional


  • Problemas de concentração e memória;

  • Fadiga mental, sensação de esgotamento sem atividade física proporcional;

  • Alterações no sono, como insônia, sono fragmentado ou dificuldade de levantar;

  • Queixas frequentes de dores de cabeça, tensão nos olhos ou dor cervical.


Declarações que sugerem sofrimento emocional vinculado às redes sociais


Frases comuns que indicam alerta:


  • “Ninguém liga para mim, nem nas redes.”

  • “A vida de todo mundo é melhor que a minha.”

  • “Se eu não postar, é como se eu nem existisse.”

  • “Se não curtem, é porque não gostam de mim.”

  • “Preciso responder agora, senão vou perder tudo.”


Essas falas refletem dependência emocional da resposta digital, que, quando constante, pode abalar a construção da autoestima e aumentar a sensação de vulnerabilidade.


Quando buscar ajuda profissional


Se os sinais se intensificam, interferem no desempenho escolar, no convívio familiar ou se acompanham de comportamentos de risco (como automutilação, crises de ansiedade aguda ou distorção grave da autoimagem), é fundamental buscar avaliação de um(a) profissional de saúde mental.


A intervenção precoce reduz o risco de agravamento e pode restaurar o equilíbrio emocional com apoio especializado e estratégias de cuidado conjuntas entre profissionais, adolescentes e famílias.


  1. Como pais e educadores podem apoiar o equilíbrio emocional digital


Apoiar um adolescente na construção de um relacionamento saudável com as redes sociais é um exercício de vínculo, escuta e presença ativa. Vai além de limitar tempo de tela: trata-se de formar, junto com o jovem, uma consciência crítica, emocional e ética sobre o ambiente digital.


💬 Crie rotinas de conversa digital com escuta ativa e regularidade


Conversas sobre redes sociais não devem acontecer apenas quando há um problema. Assim como perguntamos “como foi a escola?”, é essencial incluir no cotidiano familiar ou escolar perguntas como:


“O que tem te interessado nas redes ultimamente?”
“Você já viu algo online que te fez pensar ou sentir diferente?”

A escuta ativa (Rogers, 1951) é a base aqui: ouvir sem interromper, validar sem julgar e demonstrar interesse real. Estudos sobre parentalidade digital (Livingstone & Byrne, 2018) apontam que adolescentes que se sentem ouvidos são mais propensos a compartilhar espontaneamente suas experiências online, inclusive negativas.


🔎 Ajude o adolescente a reconhecer gatilhos emocionais online


Cada feed é um mundo emocional. Ensinar os adolescentes a perceber o efeito emocional dos conteúdos que consomem é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento.


Você pode dizer: “Você já reparou como se sente depois de ver certos perfis ou vídeos?”Isso os ajuda a desenvolver inteligência emocional digital — habilidade de identificar o que gera mal-estar e tomar decisões proativas, como silenciar ou parar de seguir.


Segundo Goleman (1995), o reconhecimento das próprias emoções é o primeiro passo para regulá-las.


🎯 Incentive o uso intencional das redes sociais


O uso compulsivo nasce, muitas vezes, de um padrão automático. Ao ajudar o adolescente a se perguntar “por que estou entrando aqui agora?”, você introduz um padrão de uso consciente, centrado em propósito e não apenas hábito.


Você pode propor: “Vamos tentar observar juntos quando usamos por vontade ou só por ansiedade?”


Isso reduz a dependência da dopamina digital (Montag et al., 2019) e reforça o senso de autonomia do jovem.


👣 Modele o equilíbrio com seu próprio comportamento digital


O exemplo é, de longe, o instrumento de maior impacto. Adultos que priorizam a presença offline, limitam interrupções digitais e refletem sobre seu próprio uso de redes ensinam mais do que discursos.


Não tenha medo de dizer: “Hoje percebi que fiquei tempo demais nas redes, vou fazer uma pausa.”Esse tipo de modelagem é coerente, humana e cria abertura para o adolescente fazer o mesmo sem culpa.


🌿 Valorize o mundo offline com experiências de presença


Oferecer alternativas prazerosas fora do mundo digital é essencial — não como “recompensa”, mas como fonte legítima de conexão e prazer. Estudos sobre bem-estar emocional (Seligman, 2011) mostram que vivências reais e significativas — mesmo simples — geram maior sensação de satisfação do que o consumo digital passivo.


Não precisa ser algo complexo. Cozinhar juntos, brincar, caminhar, ouvir música, tudo isso pode substituir horas de rolagem sem sentido e oferecer memórias emocionais positivas.


🌬️ Ensine estratégias de regulação emocional pós-uso


Após episódios intensos (discussões online, conteúdos chocantes, exclusões), o adolescente precisa reaprender a se autorregular. Respiração consciente, exercícios de aterramento (grounding), escrita livre ou até um banho quente são estratégias que ajudam o corpo e a mente a sair da hiperativação emocional.


Você pode sugerir: “Quando algo online te deixar mal, tenta dar uma pausa e fazer algo que traga calma. Seu corpo precisa disso.”


Esse tipo de apoio ensina o adolescente a cuidar de si emocionalmente — não a depender de punições externas.


Estabeleça rituais para início e fim do dia sem telas


O cérebro precisa de transições suaves para acordar e dormir. Quando o primeiro e o último contato do dia é uma tela, o cérebro entra em estado de alerta constante.

Especialistas em higiene do sono recomendam rotinas de desaceleração antes de dormir e rituais de conexão com o mundo real ao acordar (Walker, 2017).


Proponha algo concreto: “Vamos deixar os celulares carregando fora do quarto à noite e começar o dia com uma caminhada ou um café juntos.”


🧠 Converse sobre o impacto da comparação social


Mesmo adolescentes que sabem que as redes são editadas sentem os efeitos da comparação constante. O feed se torna um espelho distorcido, que amplifica inseguranças.


Fale sobre isso diretamente: “Você sabia que a maioria das fotos que vemos são retocadas ou recortadas? Como será que isso afeta a forma como nos sentimos com a nossa aparência?”


Traga dados, vídeos curtos, exemplos. Ajude o jovem a entender que o filtro emocional mais importante é o interno.


🌀 Normalize a pausa digital e o tédio criativo


A cultura da produtividade e da hiperconexão transformou o tédio em vilão. Mas o tédio é o solo fértil da criatividade, do descanso verdadeiro e da autorreflexão.


Você pode dizer: “Tá tudo bem ficar sem fazer nada. O cérebro também precisa de tempo vazio para se reorganizar.”


Estimule momentos em que o adolescente não esteja sendo estimulado externamente, sem cobrar nada em troca.


🤝 Cultive vínculo antes de impor regras


Sem vínculo, qualquer regra é vista como controle. Com vínculo, os limites são vivenciados como cuidado.


A recomendação de especialistas em mediação digital (Byrne et al., 2022) é que os limites sejam sempre explicados, construídos com participação e ajustados conforme a maturidade emocional.


Em vez de: “Desliga esse celular agora!”

Tente: “Acho que já passamos bastante tempo online hoje. Que tal um tempo só nosso?”


📚 Compartilhe conhecimento juntos


Aprender sobre redes sociais não é tarefa só do adolescente. Mostre que você também está em processo. Assistam juntos a documentários como O Dilema das Redes (Netflix), vídeos curtos do Canal Futura ou da UNICEF, e conversem sobre o que aparece.

Isso reforça o modelo de parceria e co-aprendizagem, reduz a hierarquia e aumenta a confiança.


👀 Esteja atento ao que não é dito


Silêncio, mudança súbita de humor, afastamento de amigos, queda no rendimento escolar: esses são sinais indiretos, mas importantes, de que algo não vai bem emocionalmente — e o uso das redes pode ser um dos fatores.


A abordagem deve ser sensível e não invasiva:“Tenho notado que você tem ficado mais calado ultimamente. Se quiser conversar, estou aqui.”


Esse tipo de acolhimento preserva o espaço emocional e convida à abertura, sem forçar.


  1. Ferramentas e recursos para promover bem-estar digital


Aliar presença afetiva e estratégias educativas com recursos digitais confiáveis pode ser uma forma poderosa de ampliar o cuidado com a saúde mental dos adolescentes. O próprio ambiente digital pode — e deve — ser usado como parte da solução, não apenas como vilão.


A seguir, reuni ferramentas e práticas que auxiliam no uso mais consciente, seguro e emocionalmente saudável das redes sociais, voltadas tanto para adolescentes quanto para adultos que os acompanham.


📱 Aplicativos de bem-estar digital e autorregulação


Esses apps ajudam os adolescentes a monitorar o tempo de tela, pausar notificações e criar hábitos mais saudáveis de uso das redes.

App

Função principal

Forest

Ajuda a manter o foco e reduzir distrações criando uma “floresta virtual” enquanto o usuário se desconecta

Digital Wellbeing

App nativo do Android que monitora tempo de uso e permite pausas e limites

Flipd

Incentiva períodos de foco e “detox” digital com desafios e estatísticas

Headspace

Oferece meditações guiadas, práticas de respiração e sono, voltadas especialmente para adolescentes


⚙️ Configurações nativas dos próprios dispositivos


Além de aplicativos externos, os próprios smartphones e redes sociais oferecem recursos úteis — poucos adolescentes (e adultos) os conhecem ou usam.


  • Tempo de uso (iPhone) / Bem-estar digital (Android): permitem definir limites para apps e criar pausas agendadas.

  • Modo concentração (iOS/Android): ajuda a evitar interrupções durante atividades como estudo ou sono.

  • Silenciar notificações de certos apps em horários definidos: reduz o estímulo constante que gera ansiedade.

  • Redes sociais como Instagram e TikTok têm ferramentas nativas para:

    • Definir limites diários de uso;

    • Receber alertas após tempo prolongado;

    • Ocultar curtidas ou comentários;

    • Denunciar e bloquear perfis ofensivos.


📚 Sugestões de livros e documentários sobre redes e saúde mental


Livros:


O cérebro adolescente: poder e potencial da mente adolescente – Daniel J. Siegel

Obra referência em neurociência do desenvolvimento, mostra como o cérebro dos adolescentes funciona, reage ao ambiente digital e como os adultos podem apoiar essa fase com empatia e conhecimento.


A geração ansiosa: como a infância hiperconectada se tornou um terreno fértil para os transtornos mentais – Jonathan Haidt

Lançamento recente no Brasil. Aponta evidências de como o uso excessivo de redes sociais e telas tem contribuído para o aumento de ansiedade, depressão e fragilidade emocional em adolescentes.


Tecnologia e infância: criando ambientes digitais saudáveis para crianças e adolescentes – Anya Kamenetz

Guia prático e baseado em ciência sobre como criar filhos saudáveis e equilibrados em um mundo altamente conectado. Excelente para famílias, educadores e profissionais da saúde.


A fábrica de cretinos digitais: os perigos das telas para nossas crianças – Michel Desmurget

Livro contundente escrito por um neurocientista francês, alertando sobre os impactos cognitivos e sociais do uso excessivo de telas desde a infância. Embasado em estudos de longa duração.


Documentários:


O Dilema das Redes (The Social Dilemma)

Documentário da Netflix que revela como as plataformas de redes sociais são projetadas para influenciar o comportamento, a atenção e as emoções dos usuários, especialmente os mais jovens.



Like – O Impacto das Redes (Like: The Movie)

Filme educativo que analisa como a busca por aprovação digital afeta a autoestima e a saúde mental dos adolescentes. Muito utilizado em escolas e por educadores.

🔗 Site oficial: https://www.thelikemovie.com



  1. Conclusão – Redes que conectam ou isolam? A importância da presença afetiva


As redes sociais são parte indissociável da vida dos adolescentes de hoje. Elas conectam, informam, entretêm e também, muitas vezes, ferem, comparam e sobrecarregam. O ambiente digital, assim como qualquer espaço de convivência humana, carrega potencial para o crescimento ou para o sofrimento — e o que fará a diferença será a qualidade do vínculo que o adolescente estabelece consigo mesmo, com os outros e com os adultos ao seu redor.


Ao longo deste guia, vimos que o impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes vai muito além da questão do vício. Trata-se de como o jovem se relaciona emocionalmente com o ambiente online, como interpreta o que vê, como se sente diante da validação (ou ausência dela), e como consegue — ou não — autorregular suas emoções num mundo que exige atenção constante.


Nesse cenário, pais, responsáveis e educadores não são espectadores nem censores. São, ou podem ser, referência afetiva, modelos de equilíbrio e fontes de apoio seguro. O adulto que escuta sem julgar, que se interessa sem invadir, que propõe sem impor, que acolhe mesmo quando não entende — esse adulto protege, orienta e fortalece.


Redes sociais não são, por natureza, boas ou ruins. Elas se tornam um reflexo do que construímos juntos como sociedade. E isso começa nas relações mais próximas: no diálogo diário, no olhar atento, na disposição para aprender ao lado do adolescente.


Ensinar o uso consciente das redes é ensinar também sobre emoções, limites, escolhas, vínculos e valores. É formar não apenas usuários competentes, mas pessoas inteiras em um mundo conectado.


Que cada adulto possa oferecer ao adolescente não apenas regras, mas presença, escuta e segurança emocional — porque, no fim, é isso que o protege tanto dentro quanto fora das telas.


Referências bibliográficas


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