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Como conflitos globais afetam a saúde mental dos adolescentes

  • Paloma Garcia
  • 7 de nov. de 2023
  • 12 min de leitura

Atualizado: 15 de abr.

A adolescência já é, por si só, uma fase marcada por intensas transformações emocionais, cognitivas e sociais. É um período de construção de identidade, autonomia e descoberta de lugar no mundo. Mas quando esse “mundo” apresenta-se como um espaço instável, ameaçador e constantemente em crise, a jornada torna-se ainda mais desafiadora.


Conflitos armados, emergências climáticas, pandemias, desigualdade social, discursos de ódio e incertezas econômicas passaram a ocupar um lugar central na experiência cotidiana — não só dos adultos, mas também dos adolescentes. Mesmo quando esses eventos ocorrem em territórios distantes, eles chegam direta e intensamente aos jovens, principalmente por meio da hiperconectividade digital.


O adolescente de hoje não apenas consome informações em tempo real, mas as vivencia emocionalmente. Ele se identifica com vítimas, sente-se impotente diante de injustiças e, muitas vezes, absorve o sofrimento coletivo como se fosse pessoal. Essa exposição constante a eventos traumáticos globais pode gerar impactos significativos sobre a saúde mental juvenil.


Adolescente em silêncio olhando pela janela, representando o impacto emocional dos conflitos globais na saúde mental de jovens.

Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021) alertam para o aumento global de sintomas de ansiedade, depressão, angústia existencial e ideação suicida entre adolescentes, especialmente após grandes crises — como a pandemia de COVID-19 ou episódios de guerra amplamente divulgados.



Em adolescentes emocionalmente engajados com causas sociais ou ambientais, surgem ainda quadros específicos como ecoansiedade ou trauma vicário, termos cada vez mais presentes na literatura psicológica.


Do ponto de vista biológico, essa sensibilidade não é apenas psicológica. O cérebro adolescente está em desenvolvimento e passa por uma intensa reorganização estrutural e funcional. Áreas responsáveis pela regulação emocional, como o córtex pré-frontal, ainda estão amadurecendo, enquanto estruturas ligadas ao medo e à reatividade, como a amígdala e o sistema límbico, estão em plena atividade (Casey, Tottenham & Liston, 2005).


Essa combinação — imaturidade regulatória, intensa empatia e hiperexposição a conteúdos de sofrimento — torna os adolescentes especialmente vulneráveis ao estresse tóxico, à sobrecarga emocional e à sensação de desesperança frente ao futuro.


Este artigo tem como objetivo oferecer uma análise aprofundada e acessível sobre os impactos psicológicos e neurobiológicos que eventos globais podem gerar na saúde mental dos adolescentes. A partir de uma base científica sólida e linguagem humanizada, propomos caminhos para compreender, acolher e apoiar os jovens que crescem em meio à turbulência global.


  1. Como os conflitos globais impactam emocionalmente os adolescentes


Conflitos armados, desastres naturais, pandemias, injustiças sociais e colapsos ambientais são eventos que frequentemente parecem distantes da realidade imediata da maioria dos adolescentes. No entanto, na era da conectividade digital, essas crises atravessam fronteiras geográficas e emocionais com velocidade e intensidade sem precedentes.


Ao contrário das gerações anteriores, os adolescentes de hoje recebem informações em tempo real, muitas vezes sem filtro, sem mediação e sem preparo emocional para lidar com imagens e relatos traumáticos. E o impacto dessa exposição não se limita ao momento da leitura ou visualização — ele se acumula, afeta o sono, o humor, a visão de futuro e a relação com o próprio corpo e com os outros.


Adolescentes que acompanham guerras, catástrofes ou violências sistêmicas podem desenvolver reações emocionais semelhantes às de quem vive a situação diretamente. Esse fenômeno é chamado de trauma vicário (ou trauma secundário): um tipo de sofrimento psicológico gerado pela empatia intensa diante do sofrimento alheio, especialmente em indivíduos emocionalmente engajados ou sensíveis.


Além disso, vivenciar coletivamente o medo, a instabilidade ou o colapso de sistemas básicos (como saúde e educação) pode gerar uma sensação crônica de insegurança e desamparo, fatores diretamente associados ao desenvolvimento de transtornos como ansiedade generalizada, depressão e sintomas de estresse pós-traumático (Neria, Nandi & Galea, 2008).


Em um estudo conduzido pelo Lancet Child & Adolescent Health (2021), adolescentes relataram sentimentos de “descontrole”, “medo do futuro” e “culpa por não conseguir ajudar” durante o período mais crítico da pandemia de COVID-19 e diante da crise climática. Essas emoções não são infundadas, nem exageradas — elas refletem o nível de impacto que o mundo externo exerce sobre o mundo interno dos jovens.


Para adolescentes racializados, em contextos de pobreza ou pertencentes a grupos historicamente marginalizados, o impacto costuma ser ainda maior, pois muitas dessas crises globais reverberam e intensificam desigualdades locais já vivenciadas.


Diante disso, é essencial que famílias, escolas e profissionais da saúde mental reconheçam que os adolescentes não são apenas observadores passivos da crise global — eles são afetados por ela de forma profunda, emocional e concreta.


Três adolescentes observando juntos um celular, simbolizando a exposição constante às crises globais por meio das redes sociais e o compartilhamento emocional coletivo.

  1. Impactos neurobiológicos do estresse em adolescentes


O estresse é uma resposta fisiológica natural a situações desafiadoras. Em doses controladas e temporárias, ele pode ser até benéfico, ajudando o organismo a se adaptar.

No entanto, quando o estresse é intenso, constante e imprevisível — como costuma ser em contextos de crise global — ele se torna tóxico, especialmente durante a adolescência, fase crítica do desenvolvimento cerebral.


O cérebro adolescente ainda está em processo de maturação. Regiões como o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões, controle de impulsos e regulação emocional, só atingem pleno funcionamento por volta dos 25 anos. Enquanto isso, estruturas como a amígdala e o sistema límbico, associadas à resposta ao medo e à emoção, já operam com alta intensidade (Casey, Tottenham & Liston, 2005).


Essa diferença de ritmo de maturação entre as regiões emocionais e reguladoras do cérebro ajuda a explicar por que os adolescentes reagem de forma mais intensa a situações de ameaça ou injustiça, como as que emergem de conflitos armados, crises sanitárias ou colapsos ambientais.


Além disso, o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a resposta ao estresse, entra em ação liberando o hormônio cortisol quando o corpo interpreta uma situação como ameaçadora. Essa resposta é adaptativa em curto prazo, mas sua ativação constante pode causar prejuízos significativos, especialmente no cérebro em desenvolvimento.


Pesquisas demonstram que a ativação crônica do eixo HPA em adolescentes está associada a:


  • dificuldades de regulação emocional;

  • alterações no sono e apetite;

  • prejuízos na memória e aprendizagem;

  • aumento do risco de desenvolver transtornos como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (Lupien et al., 2009; McEwen, 2017).


Também há evidências de que o estresse tóxico pode afetar o sistema imunológico e o eixo neuroendócrino, contribuindo para doenças psicossomáticas e baixa tolerância à frustração, com impacto duradouro na saúde física e mental.


É importante ressaltar que essas alterações não ocorrem apenas em adolescentes diretamente expostos a eventos traumáticos, mas também naqueles expostos indiretamente por meio de relatos, imagens ou vivências de terceiros, o que reforça a relevância dos cuidados com o conteúdo ao qual os jovens estão submetidos diariamente.


O acompanhamento emocional atento, a oferta de ambientes seguros e previsíveis e a presença afetiva de adultos disponíveis são fatores protetores essenciais para minimizar os efeitos do estresse crônico e promover resiliência emocional durante essa fase vulnerável.


  1. Ecoansiedade e Trauma Vicário – nomes para sofrimentos reais


Adolescentes de hoje não estão apenas assistindo ao mundo em crise — estão sentindo esse colapso em seus corpos, suas emoções e sua perspectiva de futuro. Em meio ao aumento do engajamento juvenil em causas ambientais, sociais e humanitárias, dois fenômenos têm ganhado destaque na psicologia contemporânea: ecoansiedade e trauma vicário.


Paisagem urbana coberta por névoa espessa, simbolizando incerteza, medo do futuro e o peso invisível das crises globais na mente dos adolescentes.

Essas não são expressões poéticas ou modismos clínicos. São nomes dados a formas reais e crescentes de sofrimento psíquico em adolescentes que, mesmo sem viver diretamente a guerra, a fome ou a destruição ambiental, são profundamente afetados por elas.


Ecoansiedade: o peso emocional da crise climática


A ecoansiedade é definida como o medo persistente de um colapso ambiental irreversível, geralmente acompanhado por sentimentos de impotência, raiva e desesperança. Embora não seja ainda classificada como um transtorno em manuais diagnósticos (como o DSM-5 ou CID-11), a ecoansiedade já é reconhecida como um fenômeno psicológico relevante, especialmente entre os mais jovens.


Uma pesquisa publicada pela Lancet Planetary Health (Hickman et al., 2021) revelou que:


  • 59% dos jovens de 16 a 25 anos se sentem muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas;

  • Mais da metade relatou sentir tristeza, raiva, culpa ou ansiedade associadas ao futuro do planeta;

  • Muitos expressam sensação de abandono por parte das autoridades e instituições.


Esse quadro emocional, em adolescentes, pode gerar alterações de sono, ruminação mental, distanciamento social e crises existenciais precoces, dificultando o engajamento escolar, a projeção de futuro e a estabilidade emocional cotidiana.


Trauma vicário: quando a empatia se torna sofrimento


O trauma vicário, também chamado de trauma secundário, ocorre quando uma pessoa absorve o sofrimento de outra a partir da exposição constante a relatos de dor, violência ou catástrofe. Em profissionais de saúde e assistência, esse termo é conhecido há décadas.


Mas hoje ele também se aplica a adolescentes altamente conectados, que consomem diariamente conteúdos violentos, testemunhos de sofrimento e imagens traumáticas.


Essa exposição intensa, principalmente sem suporte emocional ou orientação adulta, pode gerar:


  • sintomas semelhantes ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), mesmo sem vivência direta;

  • sensação de esgotamento emocional e hipervigilância;

  • evitação de temas, lugares ou conversas que lembrem o sofrimento observado.


Segundo Figley (1995), precursor do estudo do trauma vicário, a empatia intensa é o que torna esse tipo de trauma possível: quanto mais empático o sujeito, maior o risco de internalizar a dor do outro como se fosse sua.


Entre adolescentes, esse risco aumenta pelo fato de o cérebro ainda não conseguir, com eficiência, separar o que é meu e o que é do outro — algo que depende da maturação do córtex pré-frontal.


Quando sofrimento e engajamento coexistem


É importante lembrar que nem todo engajamento com causas sociais ou ambientais leva ao adoecimento emocional. Pelo contrário: o ativismo pode ser uma poderosa fonte de sentido, pertencimento e propósito para muitos jovens.


O sofrimento aparece quando não há espaço de escuta, nem suporte para lidar com as frustrações do processo. Ou seja, o problema não é o contato com a dor do mundo, mas a solidão diante dela.


Reconhecer a ecoansiedade e o trauma vicário como reações legítimas a um mundo em crise é o primeiro passo para cuidar desses jovens com seriedade, empatia e ferramentas reais de proteção emocional.


  1. Como reconhecer sinais de sofrimento psíquico em adolescentes


Diante da sobrecarga emocional imposta por crises globais, é comum que adolescentes apresentem reações pontuais como tristeza, irritabilidade ou cansaço. No entanto, quando essas manifestações são frequentes, intensas e interferem na rotina, é essencial considerá-las como possíveis sinais de sofrimento psíquico que exigem atenção.


Adolescentes nem sempre expressam sua dor de forma direta. Muitas vezes, o sofrimento aparece disfarçado em comportamentos, mudanças de humor ou isolamento progressivo. Por isso, o olhar atento e a escuta sensível dos adultos são fundamentais para reconhecer quando algo vai além das oscilações emocionais típicas da adolescência.


Sinais emocionais e comportamentais que merecem atenção


  • Tristeza persistente que se prolonga por mais de duas semanas;

  • Irritabilidade intensa ou reações explosivas desproporcionais a pequenas frustrações;

  • Fadiga constante, mesmo após descanso adequado;

  • Desinteresse por atividades antes prazerosas ;

  • Alterações significativas no sono e no apetite;

  • Isolamento social progressivo ou dificuldade de manter vínculos com pares;

  • Falta de motivação escolar, com quedas bruscas no desempenho.


Manifestações cognitivas e somáticas associadas ao estresse tóxico


  • Dificuldade de concentração e memória prejudicada;

  • Pensamentos recorrentes sobre catástrofes, morte ou desesperança;

  • Preocupações constantes com o futuro ou com a situação global (ruminação);

  • Queixas físicas recorrentes, como dor de cabeça, problemas gastrointestinais e tensão muscular, sem causa médica aparente.


Expressões indiretas de sofrimento psíquico


Adolescentes nem sempre dizem “estou triste” ou “estou com medo”. Em vez disso, é comum verbalizarem o sofrimento por meio de frases como:


  • “Nada faz sentido.”

  • “O mundo está um lixo.”

  • “Não adianta estudar, o planeta vai acabar.”

  • “Queria sumir.”

  • “Ninguém se importa com nada.”


Essas falas não devem ser ignoradas nem interpretadas como drama adolescente, especialmente quando se repetem com frequência ou acompanham mudanças de comportamento.


Sinais de alerta máximo – quando buscar ajuda imediatamente


  • Automutilação (como cortes ou queimaduras intencionais);

  • Afastamento repentino de todas as interações sociais;

  • Negligência com higiene, alimentação ou aparência;

  • Ameaças verbais ou escritas de suicídio;

  • Expressão clara de desejo de morte ou desistência da vida.


De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2018), o suicídio é a quarta principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos nas Américas — o que reforça a urgência de reconhecer os sinais precoces e intervir com apoio emocional e profissional.


O papel dos adultos: escuta, validação e ação


Diante desses sinais, a resposta ideal não é corrigir ou racionalizar, mas sim oferecer acolhimento e presença emocional sem julgamento. Validar o sofrimento, demonstrar disponibilidade e buscar ajuda especializada quando necessário são atitudes que protegem a vida e fortalecem o vínculo.


  1. Como acolher adolescentes em tempos de crise global


Em meio a um cenário de instabilidade, incertezas sociais e excesso de informação, o adolescente precisa mais do que explicações: ele precisa de acolhimento, presença e escuta qualificada. Oferecer suporte emocional nessa fase da vida, especialmente em tempos de crise, não é sobre dizer as palavras certas — é sobre construir um espaço seguro onde a dor possa ser sentida e processada sem julgamento.


Acolher é mais do que consolar — é validar a experiência


Frente ao sofrimento de um adolescente, a tendência de muitos adultos é minimizar a dor, racionalizar a situação ou buscar soluções imediatas. Embora isso seja bem-intencionado, tais atitudes frequentemente invalida o sentimento do jovem, o que intensifica sua sensação de solidão e incompreensão.


A psicóloga Brené Brown (2018), pesquisadora da vulnerabilidade e empatia, afirma que a empatia começa não com a resposta, mas com a escuta plena e a aceitação da experiência do outro. Validar não é concordar ou incentivar, mas reconhecer a legitimidade da emoção sentida.


Em vez de: “Não precisa ficar assim, vai dar tudo certo.”
Tente: “Imagino que seja muito difícil sentir tudo isso. Quer me contar mais sobre o que está passando pela sua cabeça?”

Presença afetiva: estar disponível mesmo quando o adolescente se fecha


Acolher adolescentes não é apenas conversar. Muitas vezes, é estar por perto de forma discreta, mas constante. Oferecer companhia, demonstrar disponibilidade sem pressionar e respeitar o tempo do jovem são gestos que transmitem segurança.


A constância do adulto — mesmo diante do silêncio, da irritação ou do afastamento do adolescente — funciona como um regulador emocional externo, papel essencial no desenvolvimento da resiliência.


Estudos da psicologia do apego (Siegel, 2014) mostram que a presença de adultos emocionalmente responsivos ajuda a construir o que se chama de base segura: a percepção de que é possível retornar ao vínculo mesmo após conflitos ou afastamentos.


Escuta ativa e comunicação empática: pilares da conexão emocional


A escuta ativa envolve prestar atenção de forma integral ao que o adolescente expressa, sem interromper, julgar ou tentar “consertar”. É olhar nos olhos, deixar o celular de lado, fazer perguntas abertas e mostrar curiosidade genuína.


Elementos essenciais da escuta empática:


  • Interesse real: “Como você tem se sentido ultimamente?”

  • Perguntas abertas: “Você quer me contar mais sobre isso?”

  • Evitar pressa: “Tudo bem se você não quiser falar agora. Estarei aqui.”

  • Reafirmação do vínculo: “Você não está sozinho. Pode contar comigo.”


Marshall Rosenberg (2003), criador da Comunicação Não-Violenta, reforça que escutar com empatia é oferecer ao outro a oportunidade de se sentir compreendido em sua humanidade, não julgado por sua dor.


Criação de rotinas de segurança emocional


Em tempos de crise, estabelecer rotinas previsíveis, mesmo que simples, pode reduzir a sensação de caos e aumentar a sensação de controle. Horários regulares para refeições, sono, atividades criativas e pausas digitais são ferramentas valiosas.


Práticas úteis:


  • “Check-in emocional” ao final do dia: perguntar como o adolescente está, sem cobranças.

  • Momentos de pausa conjunta: assistir a um filme, ouvir música, cozinhar juntos.

  • Redução consciente da exposição a notícias traumáticas ou conteúdos de redes sociais.


A previsibilidade e a conexão cotidiana funcionam como antídotos contra o estresse crônico.


Educação emocional como forma de empoderamento


Ajudar o adolescente a nomear suas emoções, compreender suas reações e desenvolver formas saudáveis de expressá-las é uma das maiores contribuições que um adulto pode oferecer. Isso não exige formação técnica, mas disposição para aprender e ensinar juntos.


Recursos simples:


  • Conversas sobre sentimentos (“Você sabe o nome do que está sentindo agora?”);

  • Leitura conjunta de livros infantojuvenis sobre emoções;

  • Diários emocionais ou rodas de conversa em grupo familiar ou escolar.


Ao compreender que sentir medo, tristeza ou raiva não o torna fraco ou problemático, o adolescente passa a se perceber como sujeito ativo no cuidado de sua saúde mental.


  1. Conclusão – Fortalecer resiliência em um mundo em transformação


A adolescência é uma fase intensamente moldada pelo ambiente. E quando esse ambiente está marcado por conflitos, incertezas e ameaças globais, o impacto sobre os jovens não pode ser ignorado ou minimizado.


Mais do que buscar respostas prontas ou soluções rápidas, é preciso reconhecer que o que os adolescentes precisam, antes de tudo, é de adultos emocionalmente disponíveis, atentos e dispostos a escutar com empatia. A escuta verdadeira não exige que o adulto saiba tudo, mas que ele esteja presente de forma íntegra e sensível.


Fortalecer a resiliência dos adolescentes não significa blindá-los contra a dor do mundo. Significa prepará-los para enfrentar essa dor com suporte, reflexão crítica e ferramentas emocionais sólidas. Significa reconhecer que, embora não possamos controlar os eventos globais, podemos transformar os microespaços de convivência — em casa, na escola, nas relações — em territórios de acolhimento e pertencimento.


Investir no cuidado emocional da juventude é um compromisso coletivo com o presente e o futuro. É dar aos jovens não apenas sobrevivência, mas dignidade psíquica para existir, sonhar e agir em meio à complexidade do mundo contemporâneo.


“O adolescente não precisa que o mundo seja perfeito. Ele precisa saber que, mesmo imperfeito, haverá alguém ao seu lado para ajudá-lo a atravessar.”

Que cada adulto possa ser esse alguém.


Referências bibliográficas


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